Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
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Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Semana passada, dia 29/03/2010 faleceu Armando Nogueira, um dos maiores (senão O maior) jornalistas brasileiro desse século, o criador do Jornal Nacional! Sei que não tem nada haver com mangá o assunto, por isso mesmo posto aqui no Papo Livre, e mesmo que ninguém comente uma só palavra, eu sinto que é a minha obrigação divulgar um pouco, principalmente para aqueles que não conheceram, de sua história. Um homem inteligente de tudo, apaixonado pelos ares; por voar, um homem para quem o futebol significa a mais pura forma de amar, um homem que tinha intimidade com as palavras; que as proferia de forma a parecer pura poesia!
Esse texto que aqui transcrevo foi publicado na Veja de 07/04/2010 página 82, Seção Memória - Armando Nogueira (1927-2010) e é uma coletânea, uma colagem de frases do próprio jornalista, frases que sintetizam tudo que foi e quem foi Armando Nogueira!
"Achava que estava sem horizonte em Xapuri. Saí do Acre com 17 anos. O Acre é uma magia. É o único estado que é brasileiro por devoção. É uma causa da humanidade. Cheguei ao Rio de Janeiro em setembro de 1944. Nunca tinha visto mar, asfalto bonde e automóvel. Só tinha conhecido um carro na minha vida. Minha intenção era continuar a carreira de pilotagem, iniciada no aeroclube de Rio Branco. Voar de ultraleve não é um acaso na minha vida. É destino. Troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas. Mas tenho a alma, a palma e o coração de jornalista.
Também tenho sorte. Em julho de 1954, depois da derrota do Brasil para a Hungria na Suíça, eu esperava no vestiário quando ouvi um barulho enorme no túnel. Era uma pancadaria generalizada. Enfiei uma câmara pelo basculante do vestiário e fotografei, sem querer, o Zézé Moreira, que era técnico da nossa seleção, arremessando uma chuteira no rosto do ministro de Esportes da Hungria. Se eu não gostasse da vida, esse seria um bom momento para morrer. Fiquei bastante popular entre os jornalistas.
Na madrugada de 5 de agosto, menos de quarenta dias depois, eu estava entrando em casa quando presenciei o atentado contra Carlos Lacerda. Pedi ao Pompeu de Souza, secretário de redação do Diário Carioca, para não fechar a edição. Ele determinou que eu redigisse a reportagem na primeira pessoa do singular. Foi a primeira vez que se utilizou no Brasil essa técnica jornalística.
Gosto de política, mas prefiro esporte e, entre todos os esportes, futebol, o mais vibrante universo de paz que o homem é capaz de iluminar com uma bola, seu brinquedo fascinante. Bola é magia, bola é movimento. Brinquedo mágico que se submete suavemente à vontade do homem. Por isso, respeitemos no árbitro, ao menos, o sofrimento de estar ele no meio da brincadeira sem poder brincar.
Brincar com a bola é descobrir a harmonia e o equilíbrio do universo. A Terra é redonda (e gira em torno de Pelé). deus é esférico. A existência de Deus foi confirmada pelas tabelinhas de Pelé e Tostão. O futebol não aprimora os caracteres do homem, mas sim os revela. Futebol é uma religião pagã, em que as pessoas se encontram para adorar a bola.
Para entender a alma do brasileiro, é preciso surpreendê-lo no instante de um gol. Nosso povo não canta o hino no dia 7 de setembro, mas sim quando a Seleção joga. É nesse momento que sua manifestação cívica é mais ardente. Amar um clube é muito mais que amar uma mulher. Ao longo da vida, troquei de namorada, sei lá, mil vezes. Jamais trocaria o Botafogo, nem por outro clube nem por nada neste mundo.
Um dia, consumido de saudades botafoguenses, escrevi um breve um breve poema sobre Nilton Santos: 'Tu em campo parecias tantos / e, no entanto - que encanto -, eras um só: Nilton Santos!'. Nilton não era um jogador de futebol, era uma exclamação. Minha memória é um feixe de deslumbramentos. Fui mal acostumado pela contemplação da utopia.
Vi Pelé, tão perfeito que, se não tivesse nascido gente, teria nascido bola. Vi Garrincha, para quem a superfície de um lenço era um enorme latifúndio. Driblar com as pernas tortas, e driblar como ninguém, eis o mistério de Garrincha que eu não ouso explicar. E vi Didi, de chute oblíquo e dissimulado como o olhar de Capitu. Vi o Real Madrid dos anos 50, mas vi sobretudo o Santos e o Botafogo da virada daquela década.
Nos jornais e na TV, passei a vida procurando palavras, não necessariamente a mais bela, ma a exata. A palavra é como o ser humano: nasce, cresce e morre. Mas tem sobre nós a vantagem do renascer. Sofro tanto com o processo da escrita que hoje acho muito melhor que escrever é ter escrito.
A TV conjuga um verbo irresistível que o verbo mostrar. Fazer o Jornal Nacional tornou-se algo rotineiro, mas certos fatos obrigam um jornalista a celebrar de joelhos o fato de estar vivo. A chegada do homem à Lua, por exemplo. Ou a vitória do Brasil na Copa de 70. Aquela e a de 58 foram as mais românticas das seleções. Qual teria sido a mais perfeita? Fico com a que triunfou sobre a da Suécia. Reluzia e suava. Suava e reluzia. E o ataque juntava nada menos que Pelé e Garrincha.
Não sei o que virá depois, mas tenho uma desconfiança: quem morre muda, e quem muda melhora. Tenho notado que os meus amigos que morreram melhoraram com a morte. Eu não a desejo, mas também não vejo na morte o fim do mundo. É só uma grande mudança. E pode ser o começo de outro mundo."
O último e antepenúltimo parágrafos foram os que mais me emocionaram. Espero que gostem do texto,tanto quanto eu gostei. Fica aqui minha homenagem!
Esse texto que aqui transcrevo foi publicado na Veja de 07/04/2010 página 82, Seção Memória - Armando Nogueira (1927-2010) e é uma coletânea, uma colagem de frases do próprio jornalista, frases que sintetizam tudo que foi e quem foi Armando Nogueira!
"Achava que estava sem horizonte em Xapuri. Saí do Acre com 17 anos. O Acre é uma magia. É o único estado que é brasileiro por devoção. É uma causa da humanidade. Cheguei ao Rio de Janeiro em setembro de 1944. Nunca tinha visto mar, asfalto bonde e automóvel. Só tinha conhecido um carro na minha vida. Minha intenção era continuar a carreira de pilotagem, iniciada no aeroclube de Rio Branco. Voar de ultraleve não é um acaso na minha vida. É destino. Troco dois pés em bom estado de conservação por um par de asas bem voadas. Mas tenho a alma, a palma e o coração de jornalista.
Também tenho sorte. Em julho de 1954, depois da derrota do Brasil para a Hungria na Suíça, eu esperava no vestiário quando ouvi um barulho enorme no túnel. Era uma pancadaria generalizada. Enfiei uma câmara pelo basculante do vestiário e fotografei, sem querer, o Zézé Moreira, que era técnico da nossa seleção, arremessando uma chuteira no rosto do ministro de Esportes da Hungria. Se eu não gostasse da vida, esse seria um bom momento para morrer. Fiquei bastante popular entre os jornalistas.
Na madrugada de 5 de agosto, menos de quarenta dias depois, eu estava entrando em casa quando presenciei o atentado contra Carlos Lacerda. Pedi ao Pompeu de Souza, secretário de redação do Diário Carioca, para não fechar a edição. Ele determinou que eu redigisse a reportagem na primeira pessoa do singular. Foi a primeira vez que se utilizou no Brasil essa técnica jornalística.
Gosto de política, mas prefiro esporte e, entre todos os esportes, futebol, o mais vibrante universo de paz que o homem é capaz de iluminar com uma bola, seu brinquedo fascinante. Bola é magia, bola é movimento. Brinquedo mágico que se submete suavemente à vontade do homem. Por isso, respeitemos no árbitro, ao menos, o sofrimento de estar ele no meio da brincadeira sem poder brincar.
Brincar com a bola é descobrir a harmonia e o equilíbrio do universo. A Terra é redonda (e gira em torno de Pelé). deus é esférico. A existência de Deus foi confirmada pelas tabelinhas de Pelé e Tostão. O futebol não aprimora os caracteres do homem, mas sim os revela. Futebol é uma religião pagã, em que as pessoas se encontram para adorar a bola.
Para entender a alma do brasileiro, é preciso surpreendê-lo no instante de um gol. Nosso povo não canta o hino no dia 7 de setembro, mas sim quando a Seleção joga. É nesse momento que sua manifestação cívica é mais ardente. Amar um clube é muito mais que amar uma mulher. Ao longo da vida, troquei de namorada, sei lá, mil vezes. Jamais trocaria o Botafogo, nem por outro clube nem por nada neste mundo.
Um dia, consumido de saudades botafoguenses, escrevi um breve um breve poema sobre Nilton Santos: 'Tu em campo parecias tantos / e, no entanto - que encanto -, eras um só: Nilton Santos!'. Nilton não era um jogador de futebol, era uma exclamação. Minha memória é um feixe de deslumbramentos. Fui mal acostumado pela contemplação da utopia.
Vi Pelé, tão perfeito que, se não tivesse nascido gente, teria nascido bola. Vi Garrincha, para quem a superfície de um lenço era um enorme latifúndio. Driblar com as pernas tortas, e driblar como ninguém, eis o mistério de Garrincha que eu não ouso explicar. E vi Didi, de chute oblíquo e dissimulado como o olhar de Capitu. Vi o Real Madrid dos anos 50, mas vi sobretudo o Santos e o Botafogo da virada daquela década.
Nos jornais e na TV, passei a vida procurando palavras, não necessariamente a mais bela, ma a exata. A palavra é como o ser humano: nasce, cresce e morre. Mas tem sobre nós a vantagem do renascer. Sofro tanto com o processo da escrita que hoje acho muito melhor que escrever é ter escrito.
A TV conjuga um verbo irresistível que o verbo mostrar. Fazer o Jornal Nacional tornou-se algo rotineiro, mas certos fatos obrigam um jornalista a celebrar de joelhos o fato de estar vivo. A chegada do homem à Lua, por exemplo. Ou a vitória do Brasil na Copa de 70. Aquela e a de 58 foram as mais românticas das seleções. Qual teria sido a mais perfeita? Fico com a que triunfou sobre a da Suécia. Reluzia e suava. Suava e reluzia. E o ataque juntava nada menos que Pelé e Garrincha.
Não sei o que virá depois, mas tenho uma desconfiança: quem morre muda, e quem muda melhora. Tenho notado que os meus amigos que morreram melhoraram com a morte. Eu não a desejo, mas também não vejo na morte o fim do mundo. É só uma grande mudança. E pode ser o começo de outro mundo."
O último e antepenúltimo parágrafos foram os que mais me emocionaram. Espero que gostem do texto,tanto quanto eu gostei. Fica aqui minha homenagem!
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Lindo...
Eu n Conhecia mto dele mas a sua historia me emocionou mto...
Seus Desejos...
Que Ele Viaje em paz!
Eu n Conhecia mto dele mas a sua historia me emocionou mto...
Seus Desejos...
Que Ele Viaje em paz!
Ero David- PHD M4all
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Idade : 29
Localização : Na Tela Do PC
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Fizemos uma homenagem a ele na Cupula Administrativa..
Armando Nogueira certa vez fez referencia a um ente querido do Ilustre diretor Gabriel..
O Brasil ganhou mto uma pessoa tao espetacular como AN... e tbm.. perde mto agora com a sua morte..
como eu disse ao Gabriel... é triste mais faz parte do ciclo da vida.. é o tipo de coisa que temos que estar preparados.. infelizmente este naum será o ultimo ser, que tanto fez pelo nosso pais, que veremos morrer...
bom.. ficam meus pesames.. vlw ai...
PS..
Hell... pq vc colocou Arlindo Nogueira no titulo??
Ero F. Rodrigo- Fundador M4ALL
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Idade : 39
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Pq eu sou doida meu querido hahahahaha
Sabia disso não?
meldels que feio hahahahaha arruma pra mim please?!
Juro que não sei pq que cometi essa gafe horrenda.. hohoho lesera pega, viu? ;p hihi
Sabia disso não?
meldels que feio hahahahaha arruma pra mim please?!
Juro que não sei pq que cometi essa gafe horrenda.. hohoho lesera pega, viu? ;p hihi
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Nota: Arrumado já baby...
Ero F. Rodrigo- Fundador M4ALL
- Mensagens : 4976
Data de inscrição : 16/12/2009
Idade : 39
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Pimentinha baby...
Não havia visto seu tópico, até porque não fuço muito nessa área...
Porém... como disse o Rodrigo, eu havia feito uma homenagem/citação a respeito do grande Armando Nogueira...
Mas foi na sala da Diretoria... então hoje, vou dar um ctrl C e postar aqui o comment postado lá.
===================================================Não sei se vcs chegaram a ver e no meu dia corrido acabei por não comentar, mas hj faleceu no Rio de Janeiro um ilustríssimo Acreano, conhecido como Armando Nogueira.
Ele já era uma lenda e agora um mito dos comentários esportivos em verso e prosa, como tbm o responsável pela criação do JN e a propagação da notícia televisionada que hoje assistimos em nossos lares.
Não poderia, como Acreano que sou, deixar passar em branco um fato de tamanha relevância entre meus amigos.
O Acre hoje perde um do seus mais ilustres e importante filho, homem e profissional.
Tenho a honra de ter um texto de Armando Nogueira sobre o futebol Acreano onde ele cita o alcunha de meu avô, Pedro Sepetiba, patriarca de minha família Materna, que é uma das mais antigas entre as famílias tradicionais Acrenas do tempo em que a tradição era valorizada como um dos maiores bens que uma família poderia ter.
Aqui, deixo meus sinceros pêsames por este magnífico Acreano e Brasileiro, conhecido e admirado, chamado Armando Nogueira!
Se algum de vocês quiser ler o texto no qual meu avô é citado, leia a reportagem aqui
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
Caramba!!!
Como Botafoguense louco, senti a morte dele...
É uam grande pena mesmo...
Eu não o conhecia tão bem, mas como todo bom Botafoguense eu já havia ouvido falar muito dele...
Bonito essa Homenagem DraPepper, você merece meus agradecimento como Botafoguense e conhecedor(mesmo que pouco) do trabalho belissimo desse Botafoguense apaixonado pelo esporte...
E tenho certeza que uma pessoa como ele vai brilhar no céu em forma de estrelas, não mais uma estrela solitária, mas ao lado de grandes pessoas como o Mestre Garrincha...
Vlw querida!!!
+++++++++++++++++++ para ti!!!
Como Botafoguense louco, senti a morte dele...
É uam grande pena mesmo...
Eu não o conhecia tão bem, mas como todo bom Botafoguense eu já havia ouvido falar muito dele...
Bonito essa Homenagem DraPepper, você merece meus agradecimento como Botafoguense e conhecedor(mesmo que pouco) do trabalho belissimo desse Botafoguense apaixonado pelo esporte...
E tenho certeza que uma pessoa como ele vai brilhar no céu em forma de estrelas, não mais uma estrela solitária, mas ao lado de grandes pessoas como o Mestre Garrincha...
Vlw querida!!!
+++++++++++++++++++ para ti!!!
Re: Morre Armando Nogueira (29/03/2010)
HOMENAGEM MERECIDÍSSIMA POSTADA... COMMENTS FEITOS... TÓPICO BLOQUEADO!
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