A não-abertura da TV aberta

Peço a todos para terem cuidado com a respiração ao ler este artigo, pois com as sacudidas que dei em minha memória, o texto acabou formando uma nuvem de poeira e mofo. Portanto, com este aviso, me privo de qualquer responsabilidade por crises alérgicas e deixo claro que jamais arcarei com eventuais despesas médicas que os leitores possam vir a ter em decorrência do texto.

Nossa história começa há pouco mais de dez anos, quando o computador passou a ter presença constante na vida do Manabu, nosso personagem principal. Um cara que já viveu o suficiente para fazer trabalhos escolares em máquina datilográfica, acabava de incorporar um advento poderoso com o qual já havia tido muitos sonhos, vôos, ou fantasias, e que muita insônia causaram. Porém suas expectativas não podiam prever que a presença da internet não seria apenas um passo em direção ao futuro, mas também uma ligação com o passado.

Esta característica de reavivar lembranças de infância que aos poucos vão se escondendo entre as memórias, trouxe a chance de volta aquela eterna criança que realmente ele é. Para não perder este lado, o Manabu acabou tentando conquistar o azul do céu, trazendo na mente um sonho de caçador. Então ele garimpou alguns episódios digitalizados de fitas cassete (que troço é esse?) e reviu o grande desenho de sua infância: Os Cavaleiros do Zodíaco.

Em um surto de ansiedade, acabou por iniciar o vídeo com um avanço rápido, partindo direto para o meio do episódio. Depois de uns 15 segundos ele percebeu que havia pulado não somente alguns acontecimentos, mas um ritual valioso de todas as crianças de nossa época, um sentimento forte o tomou como o sol nascente que tinge o céu e aquece a terra com seu calor. Algo que deixava a mamãe de cabelo em pé por mais ou menos um minuto, pois neste momento o volume da TV ia ao extremo.

Era a hora da abertura! Pam-parararam-pam-pam… Os guardiões do universo Hão de vencer o mal O seu destino é combater Por um mundo ideaaaaaaaaallllll (…)

Não me orgulho deste fato, afinal sou um homem de barba na cara que já está chegando à casa dos 30 anos. Só que não posso negar que nesta hora meus olhos marejaram e a música que cantava forte na infância, saia mais uma vez de minha boca, porém de maneira trêmula e nervosa. É meus amigos, a vida é tão curta e tão confusa, e ela passa sem se sentir. Eu disse eu? Eu quis dizer Manabu! AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHH, que vergonha! Ainda bem que apenas eu testemunhei meu próprio mico e só duas pessoas sabem disso, eu e agora você, leitor com quem eu conto para levar este segredo pro túmulo.

Mas tive uma grande vitória, neste momento eu consegui sentir de novo a mesma emoção, nada neste mundo pôde me vencer. Rever e reouvir aquela abertura desencadeou um desejo insano por mais. Diversas músicas vieram à tona, desde as mais agradáveis até as mais desafinadas (…quando me disse então, que uma diiiiiiiaaaaa aa raaaaaiinha eu seriiiiaaaa). Aberturas de desenhos que nem eram tão bons, mas que eram maximizados pelo poder da canção.

Como assistir animações e cantar junto com meus personagens nunca foi uma coisa que deixei de praticar, passei a dedicar mais atenção às series animadas atuais. E assim com toda garra eu vou, ao som do rock ‘n roll, hoje vou arrebentar e descobrir excelentes canções para abrilhantar meu acervo áudio-visual. Porém, infelizmente percebi que a TV aberta e seus programas cronometrados em função da capitalização comercial, muitas vezes cortam ou simplesmente não mostram tais aberturas.

Claro que as aberturas, tanto na TV aberta quanto nos canais pagos, estão sujeitas a adaptações e cantores ruins, mas também podemos ser surpreendidos com versões como as de Nil Bernardes (eu vibro com a primeira versão de Pokémon Jhoto!). E junto com a nova dublagem de Os Cavaleiros do Zodíaco, fomos agraciados com a digna Pegasus Fantasy, cantada pelo Edu Falaschi. Esta é um verdadeiro mergulho no infinito, numa emoção verdadeira, é viajar pelo universo, onde não existem fronteiras.

Confesso que prefiro correr o risco e cantar versões boas e ruins em nossa língua, do que ficar sem música alguma, abertura é parte essencial do desenho! Mas também dou o braço a torcer pelas canções originais (que todos os fansubers vão direto pro céu por me permitirem cantar junto e saber o que quer dizer Haruka Kanata ). São tantas as canções que eu fico louco e a energia e o poder vão crescer que bate de repente um desejo ardente de romper limites e cantar!

A música nos permite voar por terras distantes, ser um herói de verdade, aprender a usar a canção em horas de dificuldades. Não importa se é anime cartoon ou mesmo um citycom, nem se é inglês, japonês ou português, abertura ou encerramento. O importante de verdade é que se passam cinco ou cinquenta anos, mas o tema continua sendo essencial para o sucesso de qualquer programa. E se você identificou nos trechos em negrito alguma canção que você saiba cantar, parabéns, você reconhece o valor das músicas-temas.

Fonte:ANMTV!